A origem da inconsciência nos negócios

Por Augusto Jr. – Grupo Anga

Vivemos, no ocidente, em um sistema capitalista. Esse sistema é formado por um arranjo social e econômico complexo e recebe diversas críticas por seus problemas estruturais. Realmente, não podemos negar que nosso sistema está doente. Os grandes problemas que temos hoje são fruto de um capitalismo abusivo, inconsequente e exploratório. Podemos perceber isso em diversas áreas da vida social: desigualdade social, saúde mental dos trabalhadores, corrupção, tráfico de pessoas, impactos ambientais (como a ilha do lixo). São situações tão tristes e que infelizmente são realidade hoje.

Temos um problema complexo, sistêmico e histórico. Precisamos mudar a forma que consumimos, a forma como descartamos nosso lixo, investimos, nos relacionamos com os outros, lidamos com os mais necessitados, tratamos nossos times e as nossas referências. É preciso transformar o sistema. Mas um sistema é feito por organizações e organizações são feitas por seres humanos. Por trás de tudo há pessoas: política, negócios, organizações sem fins lucrativos, bolsa de valores… são pessoas que regem cada um desses ambientes. Antes de pensar que tipo de sistema queremos, precisamos refletir sobre o tipo de ser humano que somos.

Se queremos mudar o sistema, precisamos gerar grandes transformações. É claro que o sistema tem, sim, implicações, mas ele também é construído e influenciado por indivíduos. O caminho para mudarmos as organizações é evoluirmos como seres humanos. É preciso compreender quais são as causas para a inconsciência das organizações.

Se não houver uma mudança de consciência pessoal, não teremos um sistema mais justo, humano e igualitário. Primeiro, é preciso começar a mudar nossa mentalidade, para deixar de pensar somente no nosso ego e começar a pensar no eco. Por isso, ao pensar sobre qual a origem da inconsciência nos negócios, pude entender que esse problema se origina dentro do próprio ser humano. É sobre isso que quero compartilhar nesse texto.

Após pesquisa e observação, acredito que existe uma “trindade do mal” que está potencialmente dentro de cada ser humano. Se não tomar o devido cuidado, essas três forças podem consumir uma pessoa, assim como o traiçoeiro anel da saga Senhor dos Anéis (do escritor britânico J. R. R. Tolkien), que pervertia o coração de quem o possuía. Essas forças são a ganância, a corrupção e a injustiça. Procurei a definição dessas palavras no dicionário para compreendê-las melhor:

Ganância: a definição dessa palavra é assustadora. É um sentimento humano que se caracteriza pela vontade de possuir tudo que ele admira para si próprio. É a vontade exagerada de possuir qualquer coisa. É um desejo excessivo direcionado principalmente à riqueza material. Como diz o filósofo Mario Sérgio Cortella¹: ambição é o desejo de querer mais, ganância é o desejo de querer só para si.

Corrupção: corresponde à ideia de decomposição, modificação, adulteração das características originais de algo, relacionado ao suborno. É o ato ou efeito de se corromper, oferecer algo para obter vantagem em negociata onde se favorece uma pessoa e se prejudica outra. Corrupção é um mecanismo para manipular a realidade para benefício próprio.

Injustiça: significa violação dos direitos de outros. Ausência de Justiça, inconformidade com o correto, com o que é direito, não reconhecer os méritos devidos, adulterar o direito de receber o que é merecido.

Quando estamos tomados por esses males, nosso sistema é alterado e, tal como o anel da série de Tolkien, esses desejos passam a nos dominar. Essa lógica gera uma visão inconsciente que tem como objetivo um único stakeholder: o acionista. Essa visão foca no curto prazo, considera apenas o agora e faz qualquer coisa pelo lucro. Pessoas guiadas por ela só querem ter mais a todo custo, mesmo que isso vá gerar ainda mais desigualdade social, ou que vá gerar impacto na saúde dos funcionários, ou mesmo que precise sair da lei. O que importa é saciar o ego. Essa é a grande consequência dessa trindade do mal: ela gera pessoas guiadas pelo ego, que só focam em si mesmas e não conseguem olhar para o outro.

Sempre que estou em conversas com lideranças sobre essa pauta de liderança consciente, procuro falar que a jornada para se tornar um líder melhor passa pela experiência de se transformar em um ser humano melhor. Se quisermos mudar a forma com que o capitalismo é feito, se quisermos mudar a forma das organizações fazerem negócios, precisaremos mudar nossa visão de mundo e deixar de sermos guiados pelo ego que gera ganância, ambição e injustiça. Precisamos ser guiados pelo eco.

Quero compartilhar as três características que precisamos ter para sermos movidos pelo eco. Essas qualidades são essenciais para começar a operar na lógica da consciência e da abundância, e sairmos da lógica do mercado que oprime, sufoca e esmaga o ser humano.

Novamente, recorri ao dicionário para apresentar minha sugestão em forma dessas três ações:

Generosidade: virtude daquele que se dispõe a sacrificar os próprios interesses em benefício de outrem; magnanimidade.

Integridade: estado ou característica daquilo que está inteiro, que não sofreu qualquer diminuição; plenitude, inteireza. Age de acordo com os valores, não abre mão da reputação, faz o correto mesmo sem ninguém olhar.

Justiça: é a particularidade do que é justo e correto, como o respeito à igualdade de todos os cidadãos. Reconhece que todos são iguais diante da Lei. Justo é tanto aquele que cumpre a lei quanto aquele que realiza a igualdade, e tem desejo de dar aos outros recompensas que lhes são devidas.

Se tivermos mais pessoas movidas por essas características, com mais interesse no ECO do que no EGO, teremos organizações mais conscientes e pouco a pouco um sistema transformado. Assim, geraremos um mundo melhor, com menos desigualdade, menos corrupção e ambientes de trabalho onde as pessoas são felizes e atingem seu potencial. ¹ Cortella, Mario Sergio. Qual é a tua obra. ed Vozes, Rio de Janeiro 2007. p.120

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